quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Magma é pedra. Pedra é magma.

15.04.23

Magma é pedra. Pedra é magma.
Uma e outra são nada sem o que as faz ser,
Viajantes em fusão sem se mexer
Incandescência fria, gelo ardente
Carrocel sem eixo, cubo sem aresta, dentro sem fora.
Magma.
Pedra é vontade, magma é memória.
Tudo se transforma no mesmo e por isso tudo é inteiramente novo,
Impossível intervir, máquina imparável; Cosmos privado.
Proibido não fixar com data e lugar os pequenos incidentes,
Dos maiores alguém saberá, cordas de água, flechas de ar, colisões-difusão.
Há dias em que palavra que à porta. Alma magma,
Liberdade pedra.
Monumento colosso invisível, paz texto que nunca ninguém leu, porque nunca existiu.

Hoje é carta.

Hoje é (finalmente) pragma.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Faz hoje um ano.

Faz hoje um ano que a chuva lá fora.
Duendes fadas e moções,
Acasos e fecho de interrupções.
Dia de verdade mar rio e ria.
Não tenho ninguém aqui, disseste.
O coração dele fraco abandónico.
Ajuda-me, não devo, o que puderes.
Cuidados intensivos.
Nós, um drama anterior,
Verdade especial e particular.
Sabia exactamente o que me irias fazer.
O que já tinhas feito.
Subir, querer, fingir, esquecer.
Atestado de estupidez.
Mas praia do tubarão, noite suave.
As baterias e tudo a falir,
E não entendeste.
Dia seguinte amargo, como sempre.
Mas ainda bem.
Ainda bem que tudo ainda bem.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Vida longa ao melhor vinho do mundo!

Os enófilos mais viajados e experientes sabem que é impossível isolar o melhor dos melhores, dentre tudo o que se faz no mundo. Sabemos e desagravamos que o epíteto do “melhor vinho do mundo” não existe nem tem fundamento. De vez em quando há uns concursos, provas e opiniões com maior largura de banda e por isso mesmo criam essas auras, ou ilusões. Defendo, contudo, que o Porto Vintage é, genericamente, o melhor vinho do mundo. Porquê? Simples. Sempre que há o que se chama declaração clássica de Porto Vintage e se convoca a tribo da crítica, provamos às cegas cinco ou seis dezenas de amostras e a distribuição de classificações é mais ou menos esta: 6 ou 7 vinhos absolutamente extraordinários, nível cósmico; cerca de 15 vinhos excelentes; 30 de nível Muito Bom; e o resto Bom. Não há vinhos maus, nem mal feitos, nem possuidores de defeito sistemático sensível. É a grande festa do vinho do Porto, sem rival em qualquer outra denominação de origem. Mesmo quando me sento para provar os top de Bordéus, Borgonha ou Barolo, há um grupo superior, extraordinário, de cerca de cinco vinhos, depois 10 muito bons e, sinceramente, os outros, que vivem mais dos defeitos que das virtudes.
Os Vintage 2013 não são clássicos. Entendeu o colectivo dos produtores de vinho do Porto que as chuvas fortes que marcaram segunda metade do período da vindima comprometeu a aspiração ao topo da tabela. E bem. Escolho para representar esse fenómeno um vinho paradoxal, de cunho Fonseca, com a marca Fonseca Guimaraens, que sai sempre que o ano não é clássico para a casa. A Quinta do Panascal é a principal origem dos vinhos deste lote, complementada pelas quintas de Santo António e Cruzeiro, todas do Cima Corgo. Está fabuloso, cheio e potente, com tudo ainda por revelar, como se pretende num bom vintage. Equilíbrio perfeito na boca, tem um comprimento notável, mais que evocativo de um clássico. Para guardar por muitos e bons anos, ou para consumir já, decantado a preceito e com respeito. Viva o vinho do Porto.

18,5 - Fonseca Guimaraens Vintage DOC Vinho do Porto 2013 | The Fladgate Partnership (54 Eur)

sábado, 24 de outubro de 2015

O único luxo.

O meu luxo são os amigos verdadeiros. Sou rei no palácio em que insistentemente me mantêm. A torrente maravilhosa de ontem, dia do meu aniversário, coroada pelo privilégio súbito de poder jantar com os meus filhos, iluminou todos os corredores, mesmo os menos visitados. Todo um caminho para mais um ano.
Não gosto de balanços, opto por me fixar apenas no que é positivo. Nada a lamentar, apesar do mal que propositadamente me fizeram. Em modo secreto até ao fim da vida, fica uma pessoa que não vou ver mais.
Ainda bem.
Tudo, bom e mau, ainda bem.

domingo, 18 de outubro de 2015

Anotação.

Quando estamos em apuros ou perante dificuldades, é preciso dar prioridade a tratarmos de nós próprios, mesmo para fazer coisas bizarras que normalmente não faríamos. Ficar na cama todo o dia, comer o que nos põe bem dispostos, pôr o trabalho de lado, chorar, dormir, rever planos e projectos, ler um bom livro, ver o programa tv favorito, ou até não fazer nada. Temos de fazer-nos bem.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Vida curta, sonos rápidos

Parece-me injusto dormir todos os dias. Mas foi a única forma que encontrei de sonhar o que não sei. (PaT)

terça-feira, 6 de outubro de 2015

A vida é curta.

Pára de perder o teu tempo com pessoas más, que não te deixam ser feliz.
Se alguém te quiser na sua vida, vai criar espaço para ti, não tens de lutar por ele.
Não fiques ao pé de quem te ignora.
Afasta-te dos que estão ao teu lado apenas nos bons momentos, e aproxima-te daqueles que têm permanecido nos piores.

CBS.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

sábado, 29 de agosto de 2015

Chega! Sim, chego.

"Chega.
Vem-me buscar.
Par de patins.
Comer por amor.
Nem te dás conta.
As folhas das árvores.
Saudades."

Os corações são imperfeitos. As pessoas maiores que o meu coração.

"(...) Mudaram muita vez as folhas da floresta (...)".

Teresa. 3.

(Para Alexandra, com a intenção indizível)

Casa Deserta

Ah nada pior que a casa deserta,
sozinha, sozinha.

O fogão apagado e tudo sem interesse.
O mundo lá longe, para lá da floresta.
E o vento soprando
a chuva caindo
a casa deserta...

Ah nada pior que estes dias e dias,
de cachimbo aceso, com as mãos inertes,
com todas as estradas inteiramente barradas,
ouvindo a floresta.
Com tudo lá longe, na casa deserta,
o vento soprando
e a chuva caindo, na noite caindo...

Há uma cancela que range nos gonzos
um velho cão de guarda que ladra sem motivo
- parece que é gente que vem a entrar...

E é só o vento soprando, soprando
e a chuva caindo...

Mudaram muita vez as folhas da floresta.
Os olhos do homem são olhos de doido.
Fogão apagado, aceso o cachimbo, o mundo lá longe.

E o vento soprando
a chuva caindo
a casa deserta...

Mário Dionísio

Teresa. 2.

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para o Estados Unidos, Teresa para o
convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto
Fernandes
que não tinha entrado na história.

Carlos Drummond de Andrade

Teresa. 1.

A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna

Quando vi Teresa de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o
[resto do corpo
(Os olhos nasceram e fizeram dez anos esperando
[que o resto do corpo nascesse)

Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a
[face das águas.

Manuel Bandeira

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Love all, Trust few, do Wrong to none

Shakespeare, em mais uma das suas muitas torrentes. Muito para além das palavras.
Palavra que poucas palavras.

domingo, 5 de julho de 2015

Marta.


Intemporal, realmente. Uma lição silenciosa, estendida secretamente no limiar da espuma dos tempos que são os mesmos, meus e teus. As vezes que falhámos quando tínhamos tudo seguro e combinado para o encontro, reencontro e reencontro... Nunca estar contigo podia ter sido vazio, claro que não. Mas por que te ouço tanto agora, de repente... Fizeste bem insistir, desta vez. Tínhamos mesmo tudo a favor, sobretudo eu. Talvez não devesse estar aqui a escrever isto, mas há qualquer coisa de juvenil que sempre se acende dentro quando da nossa infância sobramos assim, talvez ainda tão capazes. Agora estamos aqui. Agora ficas.

terça-feira, 30 de junho de 2015

Complicação, de Mário Dionísio

 

As ondas indo, as ondas vindo — as ondas indo e vindo sem
parar um momento. 
As horas atrás das horas, por mais iguais sempre outras. 
E ter de subir a encosta para a poder descer. 
E ter de vencer o vento. 
E ter de lutar.
Um obstáculo para cada novo passo depois de cada passo. 
As complicações, os atritos para as coisas mais simples. 
E o fim sempre longe, mais longe, eternamente longe.

Ah mas antes isso!

Ainda bem que o mar não cessa de ir e vir constantemente. 
Ainda bem que tudo é infinitamente difícil. 
Ainda bem que temos de escalar montanhas e que elas vão
sendo cada vez mais altas. Ainda bem que o vento nos oferece resistência 
e o fim é infinito.

Ainda bem. 
Antes isso.
50 000 vezes isso à igualdade fútil da planície.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Sei os teus seios

(Alexandre O'Neill)

Sei os teus seios. 
Sei-os de cor. 

Para a frente, para cima, 
Despontam, alegres, os teus seios. 

Vitoriosos já, 
Mas não ainda triunfais. 

Quem comparou os seios que são teus 
(Banal imagem) a colinas! 

Com donaire avançam os teus seios, 
Ó minha embarcação! 

Porque não há 
Padarias que em vez de pão nos dêem seios 
Logo p'la manhã? 

Quantas vezes 
Interrogaste, ao espelho, os seios? 

Tão tolos os teus seios! Toda a noite 
Com inveja um do outro, toda a santa 
Noite! 

Quantos seios ficaram por amar? 

Seios pasmados, seios lorpas, seios 
Como barrigas de glutões! 

Seios decrépitos e no entanto belos 
Como o que já viveu e fez viver! 

Seios inacessíveis e tão altos 
Como um orgulho que há-de rebentar 
Em deseperadas, quarentonas lágrimas... 

Seios fortes como os da Liberdade 
-Delacroix-guiando o Povo. 

Seios que vão à escola p'ra de lá saírem 
Direitinhos p'ra casa... 

Seios que deram o bom leite da vida 
A vorazes filhos alheios! 

Diz-se rijo dum seio que, vencido, 
Acaba por vencer... 

O amor excessivo dum poeta: 
"E hei-de mandar fazer um almanaque 
da pele encadernado do teu seio"
(Gomes Leal)

Retirar-me para uns seios que me esperam 
Há tantos anos, fielmente, na província! 

Arrulho de pequenos seios 
No peitoril de uma janela 
Aberta sobre a vida. 

Botas, botirrafas 
Pisando tudo, até os seios 
Em que o amor se exalta e robustece! 

Seios adivinhados, entrevistos, 
Jamais possuídos, sempre desejados! 

"Oculta, pois, oculta esses objectos 
Altares onde fazem sacrifícios 
Quantos os vêem com olhos indiscretos" 
(Abade de Jazente)

Raimundo Lúlio, a mulher casada 
Que cortejaste, que perseguiste
Até entrares, a cavalo, p'la igreja 
Onde fora rezar, 
Mudou-te a vida quando te mostrou 
("É isto que amas?") 
De repente a podridão do seio. 

Raparigas dos limões a oferecerem 
Fruta mais atrevida: inesperados seios... 

Uma roda de velhos seios despeitados, 
Rabujando, 
A pretexto de chá... 

Engolfo-me num seio até perder 
Memória de quem sou... 

Quantos seios devorou a guerra, quantos, 
Depressa ou devagar, roubou à vida, 
À alegria, ao amor e às gulosas 
Bocas dos miúdos! 

Pouso a cabeça no teu seio 
E nenhum desejo me estremece a carne. 

Vejo os teus seios, absortos 
Sobre um pequeno ser

domingo, 21 de junho de 2015

Kundry

Kundry 1



Kundry, ambivalente mas chave no conhecimento de Parsifal de si próprio. Dois senhores: Gurnemanz (Graal; purificação) e Klingsor (Mal; magia negra). Transporta em si num todo indefinível esses grandes blocos dos fundamentos da existência humana.

Toquei mais vezes a abertura de Parsifal como marcha inicial em casamentos do que as vezeiras marchas nupciais de Mendelson e Wagner (Lohengrin). Há magia em todos os compassos e é sempre redentor o percurso melódico e contraponto das várias vozes. Kundry está sempre presente e sempre, por puxar tanto pela existência dos que interpela, dos que ama, leva quase ao mito da transformação em si próprio, à maneira de Zaratustra.

Falo muitas vezes com Kundry. Gosto de falar com ela. Gosto de me deixar ser dela.


Kundry 2





Sedutora nos jardins de Klingsor. Mas também Graal nos domínios de Gurnemanz. Ao seduzir Parsifal, vai sucumbir nos seus braços e revelar-lhe os primeiros instantes, cantando-lhe ao ouvido o que a sua Mãe cantava enquanto o amamentava. Parsifal descobre a sua identidade e o amor. Ao conduzi-lo a Gurnemanz, Kundry proporciona a Parsifal o mais brutal acontecimento: a transformação. "Aqui o tempo e o espaço tornam-se um só". Maravilhosa Kundry. Estás exausta, ninfa.


Kundry 3



Kundry, exausta. É preciso esvaziar-se completamente. Parsifal nos seus braços esgotado em sono profundo. Ela mais. Porquê?


Kundry 4


Kundry deixou de sentir. Perscruta-se num qualquer espelho. Ri-se dos tolos voluntários que julgam perceber.


Kundry 5


És mortal e morta, Kundry. Afinal és escrava.


Kundry 6

Kundry, minha força e vigor. Diz-me tudo.



Kundry 7

Kundry mulher peito beleza. Magma partilhado. Fusão.






Kundry 8

Kundry esclarecimento.





Sim, insubstituíveis

Alguém que nos conhece bem, incluindo as falhas e os defeitos graves, e mesmo assim continua a achar-nos fantásticos e a admirar-nos; Sendo alguém de quem nós conhecemos as falhas e os defeitos graves e continuamos a achar uma pessoa fantástica, tem de estar para sempre na nossa vida e nós na dela. É amor.

sábado, 6 de junho de 2015

Luz madressilva



Os sentimentos não têm medida,

Nem, de uns para outros, comparação.

Vai já na curva que é a descida

A cavalgada meu coração.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

The Nightingale

(Badalamenti & David Lynch, Twin Peaks)

The nightingale
It said to me
"There is a love
Meant for me"

The nightingale
It flew to me
And told me
That it found my love

He said, "One day
I'll meet you
Our hearts will fly
With the nightingale"

The nightingale
He told me
"One day
You will be with me"

The nightingale
Said, "He knew
That your love
Would find my love one day"

My heart flies
With the nightingale
Through the night
All across the world

I long to see you
To touch you
To love you
Forever more

sábado, 21 de março de 2015

dia mundial

Hoje era preciso que a palavra não fosse,
Que o vazio das mãos na torrente
guardasse ainda a promessa.
E que de manhã o sol não cantasse
No fresco húmido da relva ainda orvalhada.

Pois no futuro nos teus olhos sinto que és
Alabastro alfazema e lima feitos fumo pelo ar
E para onde todos vamos portal
de métricas e rimas e matriz de metáforas.

Era também preciso que o luar não chamasse
Reclamando-nos para a vigília amorosa
E que o lago não fosse prata, as lágrimas ouro
E a saudade o mais seguro dos sentimentos.

Só então talvez numa ínfima fissura temporal
Precisasse a poesia de ter um dia.
Que não. Que todos são.

quinta-feira, 19 de março de 2015

Sempre alguém

Sempre alguém chora perto de mim quando estou prestes a chorar! Diamantes suspensos, pedras de sal perfeitas, luz suave e sensível. Por cima a onda salgada, nas mãos a imensa pedra de mar. Só assim é suportável o silêncio, que preencho com esta humidade imanente. Está tudo vivo, comandante. Pode seguir.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Einstein on the Beach Knee Play 5 (Philip Glass)

Two lovers sat on a park bench with their bodies touching each other, holding hands in the moonlight.

There was silence between them. So profound was their love for each other, they needed no words to express it. And so they sat in silence, on a park bench, with their bodies touching, holding hands in the moonlight.

Finally she spoke. "Do you love me, John ?" she asked. "You know I love you. darling," he replied. "I love you more than tongue can tell. You are the light of my life. my sun. moon and stars. You are my everything. Without you I have no reason for being."

Again there was silence as the two lovers sat on a park bench, their bodies touching, holding hands in the moonlight. Once more she spoke. "How much do you love me, John ?" she asked. He answered : "How' much do I love you? Count the stars in the sky. Measure the waters of the oceans with a teaspoon. Number the grains of sand on the sea shore. Impossible, you say. Yes and it is just as impossible for me to say how much I love you.

"My love for you is higher than the heavens, deeper than Hades, and broader than the earth. It has no limits, no bounds. Everything must have an ending except my love for you."

There was more of silence as the two lovers sat on a park bench with their bodies touching, holding hands in the moonlight.

Once more her voice was heard. "Kiss me, John" she implored. And leaning over, he pressed his lips warmly to hers in fervent osculation.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Pobreza necessária

Sou pobre dos que amo. Com tal intensidade que às vezes tenho medo que se note. Não prendo, solto. Quando a vida da maioria se foi definindo como um conjunto de certezas, a minha ensinou-me exactamente o contrário. Penso que instalei dentro o significado do nada e é por isso que nos meus corredores viajo rente às ténues fronteiras dos limites e quase toco no tudo. É uma lei muito antiga. Não pode notar-se. Palavra que pobre.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Amar-se para ser amado.

Se eu não me amo, vou andar à procura de alguém que me complete, faça feliz e que torne os meus sonhos em realidade. Estar "necessitado" é a melhor forma de atrair más relações. Se estamos à espera que outra pessoa nos "arrume" a vida, ou que seja a "melhor metade", estamos a dispor as coisas para o fracasso. É necessário que estejamos realmente felizes connosco próprios antes de iniciar uma relação a dois. É talvez mesmo necessário que estejamos já suficientemente felizes para nem sequer precisar de uma relação para ser feliz.

Da mesma forma que se temos uma relação com uma pessoa que não se ama a si própria, é quase impossível que a consigamos satisfazer.
Nunca se "vale o suficiente" para uma pessoa insegura, frustrada, ciumenta, rancorosa ou que se odeia a si própria.
Vemo-nos muitas vezes a fazer o impossível para agradar e ser valorizados por companheiros que não sabem aceitar o nosso amor, porque de facto não se amam a si próprias.

A vida é um espelho, atraímos pessoas que reflectem as nossas próprias características, ou o que pensamos de nós próprios e das nossas relações. O que os outros pensam de nós corresponde à sua própria perspectiva limitada da vida. Temos de aprender que a vida nos ama incondicionalmente. O trabalho mais importante fazemo-lo em nós próprios. Desejar que uma companheira mude é uma forma subtil de manipulação, o desejo ter poder sobre ela. 
Muitas vezes procuramos pessoas que nos façam sentir amados ou ligados, quando a única coisa que elas podem fazer é reflectir a nossa relação connosco próprios.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Queria dizer-te

Queria dizer-te que as nuvens parecem algodão doce.
Queria dizer-te que as nuvens por dentro têm o ruído do mar na rebentação. É por isso que lhes pomos as mãos e brincamos. E também porque sabemos que o mar é inteiro e inviolável. É para sempre.
Queria dizer-te que as nuvens escondem quem vai a passar e não pode ser visto.
Queria dizer-te muitas coisas felizes sobre as cores. Por exemplo avelã, cor dourada a lembrar mel. Por exemplo azul sulfato, a cor que está antes de todas as outras. Por exemplo alfazema, que é impossível não ter cheiro. Por exemplo verde, sensível numa parra em que se toca para ver da fotossíntese e sentir a frescura da folha saudável. Por exemplo vermelho, a cor dos extremos festa e sangue. Por exemplo pêssego, a um tempo muitas cores e cor nenhuma. Por exemplo bordeaux, que quer sempre dizer cor de vinho tinto.
Queria dizer-te o que não posso dizer, mas isso tu já sabes.