domingo, 15 de dezembro de 2013

O filme que foi hoje

Vale às vezes mil folhas um quadro assim. Ou a ideia de te saber no beijo suave que me deixaste. Obrigado.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

A morte não é nada (S. Agostinho)

Oração atribuida a Sto Agostinho


A Morte não é nada.

Apenas passei ao outro mundo!
Eu sou eu .Tu és tu.

O que fomos um para o outro ainda somos;
Dá-me o nome que sempre me deste;
Fala-me como sempre me falaste;
não mudes o tom para triste ou solene;
continua rindo com aquilo que nos fazia rir juntos;
Reza, sorri, pensa em mim, reza comigo.
Que meu nome se pronuncie em nossa casa

Como sempre se pronunciou.
Sem nenhuma tristeza, sem nenhuma lástima.
A vida continua significando o que sempre significou.
Continua sendo o que sempre foi.
Entende meu querido;
O cordão da união não se quebrou!
Porque tu estarias fora dos meus pensamentos;
apenas porque estou fora das tuas vistas?
Não estou longe!
Aliás muito perto de ti... 
Apenas do outro lado do caminho... 
Não se entristeça, breve verás que tudo está bem... 
Redescobrirás meu coração e nele

a ternura mais pura que sempre tivemos um pelo outro!
Isso nunca acabará!
até o nosso reencontro!
Seca tuas lágrimas e, se me amas como eu a ti;

não chores mais.....


quarta-feira, 20 de novembro de 2013

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Os amantes e os corredores ortogonais


"Os amantes", Magritte (1928)

Quanto mais perto estão, mais sentem que quase tocam. Mas não, afinal não. Nunca. Palavra que quase.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Olhar para um retrato meu de outrora.

"O duplo é outro eu que nos engana e nos trai (e nos atrai), que gostaríamos de ser e não somos (ou, pelo contrário, nos apavora), a outra parte de nós que nos escapa." in As Águas Livres, Caderno II, de Teolinda Gersão.

Com todo o respeito, foi o que me ocorreu, e mais a perplexidade de que sempre que olhamos para um retrato nosso de outrora, gera-se em nós o efeito inefável de nos sentirmos perscrutados.

sábado, 21 de setembro de 2013


Johannes Vermeer, "Mulher que lê uma carta em frente a uma janela aberta". 1659

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Desejo incontido de AZUL

Por que são violentas comigo as pessoas a quem só quero bem?


Amedeo Modigliani, “La bambina in azzurro” (1918)

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Um beijo que ainda não.


Um som apenas, uma amostra de tonalidade e o etéreo torna-se presente. Os beijos são emocionantes. Um beijo daqueles que sim, é fusão.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Um homem normal.


Saiu de casa com a ideia fixa de fazer uma loucura que acabou por fazer sem querer, o pobre homem não tinha feito nada que não devesse, devia estar aéreo ou coisa assim para se deixar apanhar em casa com outra no lugar da mulher que entretanto telefonara para garantir que o gás estava desligado, mas ao perceber que havia caso disse vou já e foi, deixou o homem de cabeça perdida e ficou trancado do lado de fora, pressuroso para não ser apanhado pela mulher que era mesmo mulher e não era a outra, outra que ficou do lado de dentro e abriu a porta à que era mesmo que entrou enquanto dizia não me diga nada sei quem você é e faz muito bem em ser assim, que os homens bons não se querem por muito tempo, os intervalos são uma maravilha, mas é capaz é de não saber que ele anda feito aqui com a filha do merceeiro, o caso dura há três anos e eu aturo-lhe tudo tudo porque no fundo não o aturo é a ele, isso não lhe deve ainda ter acontecido, fartar-se dele, por acaso já me acontece há mês e meio, tive de arranjar outra solução rapidamente e tenho um companheiro maravilhoso, só que ele anda de olho numa miúda que deve ser muito mais nova que eu, apesar dele jurar que não, ela mora aqui na rua, até acho que é ali no prédio em frente, espere aí, disse a mulher a sério, esse seu homem é o que tem um mercedes branco, sim, mas esse é o meu homem e a dona dessa casa sou eu, então não é dona desta, sim também. Entra o desgraçado do homem que tinha ficado trancado lá fora que aproveitou para comprar flores para a mulher a sério que imaginava nesta altura já instalada na casa também a sério, fazendo fé que a outra se tinha também posto a andar. Em vez disso, esperaram-no ambas que logo que ele entrou lhe chamaram em coro: perverso!

sábado, 17 de agosto de 2013

As minhas memórias são nada

As minhas memórias são nada. O passado é aquilo que se desdobra de novo nas minhas mãos, à maneira de mapa, para onde não vale a pena olhar, apenas sentir. Quanto sinto que tudo está na mesma, é quando sei que tudo mudou. Eu, como as memórias, sou um nada mutante. Calo dentro feliz o sentimento de que tudo é diferente.

Correr juntos


Quando chegavam as 6 da tarde, era tempo de voltarmos a ver-nos. Vencer o trânsito e o cansaço. Deixar acender dentro a chama que nos atirava tanto um para o outro. Havia mais, muito mais, que nos atirava ambos para o rio. Metamorfose rápida, ser só vestir o equipamento e descer, o Tejo ali. Silêncio, não falávamos. Então dávamos as mãos. Caminhávamos 5 minutos de mãos dadas. E começava a corrida, 4,5 km para lá, outro tanto para cá. Era exactamente 9 km de conversa. Ninguém soube que 9. Mas nove. Era como se não fosse preciso respirar, correr ou andar a mesma coisa. Não dispensávamos era falar. E fazíamos amor devagar, muito tempo. Do que aprendi e vi, as outras pessoas correm de forma solitária, e fazem amor a correr. Nós não. Nunca.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Era no Algarve que devia estar

Encostado ao perfil de uma gaivota, em modo vagaroso, a sondar que mundo.

Ou a pensar não sondar. Antes ser perscrutado sem dar por isso. Que havia. Que podia haver.

sábado, 10 de agosto de 2013

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Sinto. 10. Discurso, doutrina, prática.

Se alguém é o que diz, como pode o que faz não ser aquilo em que acredita? A humanidade vive encarcerada naquilo que promete e - mais?... - no que espera dos outros.

A Fé compromete. Deve comprometer. É forçoso que comprometa.

Alguém deve achar que o amor.

Palavra que se diz.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Sinto. 9. O amor liberta, o desejo limita.


"O desejo próprio de liberdade é maior do que o desejo de conceder liberdade àqueles que mantemos prisioneiros dos nossos sentimentos."

Extraído de conversa com Agostinho da Silva

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Sinto. 8. Sim, Rilke.

As Once the Winged Energy of Delight (R.-M. Rilke)

As once the winged energy of delight
carried you over childhood's dark abysses,
now beyond your own life build the great
arch of unimagined bridges.

Wonders happen if we can succeed
in passing through the harshest danger;
but only in a bright and purely granted
achievement can we realize the wonder.

To work with Things in the indescribable
relationship is not too hard for us;
the pattern grows more intricate and subtle,
and being swept along is not enough.

Take your practiced powers and stretch them out
until they span the chasm between two
contradictions...For the god
wants to know himself in you.

domingo, 28 de julho de 2013

Sinto. 7. Eu sei, eu sei, não é preciso repetir.

Acabo de ouvir acidentalmente "Why" por Annie Lennox e também por acidente reparar melhor na letra. Palavra que vozes vindas dos corredores ortogonais. Ou intersecções acidentais.

A ideia dos olhos que sentimos fixos em nós e que não.

Palavra que aqui.

sábado, 20 de abril de 2013

Sinto. 6. Os Estados de Alma vivem apenas nas palavras simples.

E na Patética tocada por Glenn Gould.

"É fundamental respirar a palavra e respirar fundo o intervalo". (Inteiramente Simples)

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Sinto. 5. Que cartas já não.

"Houve um tempo em que, nos amores e nas paixões, se falhava de forma espectacular. Com baba e ranho. Dava-se tudo. Saíamos rasgados de pele e coração. Valia sempre a pena, mesmo quando perdíamos o chão.

Os erros, as faltas, as vertigens, o pé à beira do abismo existiam para nos lembrarmos de que somos humanos. A regra era cair e levantar, prontos para outra depois de lutos intensos, sofridos, partilhados. Agora tudo isso existe sob a forma de prevenção. Para nos lembrarmos do que não devemos fazer, dos riscos que não devemos correr, contra o vírus da solidão.

Fomos ficando higienizados. Da alma à cama. Uma espécie de “se conduzir, não beba” para evitar os males do coração. Como se pudéssemos dizer “se amar, não se magoe”.

Com o passar dos anos, aprendemos a contornar os sintomas a bem da decência, da pose e da anestesia geral ou local, conforme as necessidades. O importante é não dar parte de fracos.
O ciúme é uma coisa moderna, para ser compreendida. A discussão acalorada está fora de moda.
A vingança é um prato que não se serve frio nem quente nas relações mais conceituadas. É coisa do povo, ementa de vidas de tasco, entre um tiro de caçadeira e um facalhão de meter respeito.

O civismo entrou definitivamente na nossa intimidade para amansar os corpos, os gestos, as palavras. A postura é um fato de pronto-a-vestir que usamos para entrar e sair das relações. Talvez até já nem se rasguem roupas quando chega a hora. O sentimento não ferve, a aprendizagem das loucuras que fizemos é renegada e a história do que fomos não tem disco duro porque a caixa de mensagens é mais prática e descartável. De resto, já não há cartas para guardar porque ninguém as escreve. Quem as leria, de resto, se tivessem mais de 140 caracteres?

Como num poema do Eugénio, já não há nada que nos peça água. E estamos como ela: insípidos, inodoros e incolores. Leves. Capazes de ir do tudo ou nada sem efusão de sangue. Deve andar a escapar-nos o momento em que deixamos de olhar a vida nos olhos e a desregrada infinidade de coisas que vinha junto com ela."


Miguel Carvalho
in Revista Egoísta

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Sinto. 4. Esqueceste que a Temperança.



Nem o oposto de caos é ordem nem o oposto de verdade é mentira. A hora é de Temperança. Palavra que o desafio.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Sinto. 3. A importância de não ser amado.

Tudo tem o inefável aspecto de refrigério, quando percebemos que o amor foi ao longo da vida passando, mas não ficou. Então sinto esta força grande e relaciono-me com a noção de ser absoluto. Amor total e incondicional. Este ao menos não cai no chão. A música é a de "Fascination", e a tradução para português pertencerá sempre a Elis Regina:

Os sonhos mais lindos sonhei.
De quimeras mil um castelo ergui
E no teu olhar, tonto de emoção,
Com sofreguidão mil venturas previ.

O teu corpo é luz, sedução,
Poema divino cheio de esplendor.
Teu sorriso quente, inebria e entontece.
És fascinação, amor.

Os sonhos mais lindos sonhei.
De quimeras mil um castelo ergui
E no teu olhar, tonto de emoção,
Com sofreguidão mil venturas previ.

O teu corpo é luz, sedução,
Poema divino cheio de esplendor.
Teu sorriso prende, inebria e entontece.
És fascinação, amor.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Sinto. 2. A hora azul, do azul

L'Heure Bleue, tal como a cantou tão bem Françoise Hardy

c'est l'heure que je préfère,
on l'appelle l'heure bleue
où tout devient plus beau, plus doux, plus lumineux
c'et comme un voile de rêve
qu'elle mettrait devant les yeux
cette heure bien trop brève
et qui s'appelle l'heure bleue

c'est une heure incertaine, c'est une heure entre deux
où le ciel n'est pas gris même quand le ciel pleut
je n'aime pas bien le jour:
le jour s'évanouit peu à peu
la nuit attend son tour
cela s'appelle l'heure bleue

le jour t'avait pris
et tu te promènes
dans le soir de Paris
l'heure bleue te ramène

c'est l'heure de l'attente quand on est amoureux
attendre celui qu'on aime, il n y a rien de mieux
quand on sait qu'il va venir
c'est le moment le plus heureux
et laissez-moi vous dire
que ça s'appelle l'heure bleue
oui laissez-moi vous dire
comme j'aime l'heure bleue

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Sinto. 1. Castigo sem crime?

Papa anuncia que vai abandonar o cargo, à maneira do funcionário que dá 30 dias à empresa antes de sair. E como na empresa também, ninguém o pode demover da moção. De todas as perplexidades a que nos habituou nestas últimas décadas - em que foi apenas uma ténue sombra do homem brilhante que outrora foi - reduz-se a funcionário e diz que passará o resto da vida em oração. Em primeiro lugar, eu achava que ele era já homem de perfil orante, irredutível no seu posto. Depois, não se sente forçado a explicar melhor, absolutamente nada. Quando aceitou a eleição - a mesma que Martini rejeitou -, não era propriamente jovem, mas sentia-se com forças pra governar o ingovernável. Tento não pensar no assunto, detenho-me apenas na palavra "Papa". Vem do grego Pappas, e quer dizer "padre", ou "pai". Então o pai diz aos filhos, "vou ali pró cantinho até morrer, não consigo mais ser vosso pai". Por que não nos diz a verdade?

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Permaneço. 50 (e último). Naufrágio.

Permanecer não é pra todos. É imperativo habitar a distância, percorrer em silêncio todos os corredores como se por debaixo de cada passada houvesse, escondida, uma mina de ouro. Saber sempre onde nasce o sol.

Naufrágio tranquilo e pacificador.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Permaneço. 48. O êxito dos insucessos.

Qualquer pessoa deve conseguir explicar-se e não apenas circunstanciar-se. O sucesso circunstancia-me em função de pessoas, lugares, tempos, relações e sentimentos. O insucesso não; esse é apenas meu. Por isso, são os insucessos que me explicam.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Permaneço. 47. Cafetaria.

Nas cafetarias dos museus, as pessoas olham para a tabela de preços com a mesma atitude com que olham para uma obra de arte. Demoram exactamente o mesmo tempo, e aprendem exactamente o mesmo, que é nada. Por que olham, então?