quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Abdica e sê rei de ti próprio

Não tenhas nada nas mãos
Nem uma memória na alma,

Que quando te puserem
Nas mãos o óbolo último,

Ao abrirem-te as mãos
Nada te cairá.

Que trono te querem dar
Que Átropos to não tire?

Que louros que não fanem
Nos arbítrios de Minos?

Que horas que te não tornem
Da estatura da sombra

Que serás quando fores
Na noite e ao fim da estrada.

Colhe as flores mas larga-as,
Das mãos mal as olhaste.

Senta-te ao sol. Abdica
E sê rei de ti próprio.

(Ricardo Reis)

domingo, 8 de outubro de 2017

Vagamente

Uma exposição de arte de quem não saiba absolutamente nada;
Um concerto de música que nunca ouvi nem tenho o código;
Visitar um lugar de que nada sei nem ouvi falar;
Aceitar que alguém me mostre ou leve.

É vagamente isso.

Vagamente.

terça-feira, 12 de setembro de 2017

domingo, 10 de setembro de 2017

Sempre Sophia, hoje o Tempo

Data

Tempo de solidão e de incerteza
Tempo de medo e tempo de traição
Tempo de injustiça e de vileza
Tempo de negação

Tempo de covardia e tempo de ira
Tempo de mascarada e de mentira
Tempo que mata quem o denuncia
Tempo de escravidão

Tempo dos coniventes sem cadastro
Tempo de silêncio e de mordaça
Tempo onde o sangue não tem rasto
Tempo de ameaça

Sophia de Mello Breyner Andresen

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Carta a quem.

No jardim de todos os jardins, o encontro inesperado recupera anos de não ter afinal conversado com ninguém. Claro que os gestos mecânicos, os movimentos bruscos e curtos, a falta de jeito até encontrar o jeito certo de sentar. Depois o que fizemos, o que fomos, os nossos filhos, os romances, a música, as viagens. As nossas cronologias comparadas mostram evidências que nos divertem, pode tudo ter acontecido sem disso termos dado conta. As mortes que nos calharam. Ainda não saí daqui. Ainda não percebi porque nunca te conheci. Prometo.

terça-feira, 15 de agosto de 2017

Prisões

Eu sou prisioneiro do mar,
da mesa cadeira e teclado.
De vez em quando troco o teclado pela árvore
Mas não dura; a árvore é efémera
e é no vento do meu teclado que me pacifico.
É tudo insuportável à minha volta,
E eu náufrago sem jangada.
O mar não tem como me expelir.

sábado, 5 de agosto de 2017

A sombra sou eu

A minha sombra sou eu,
ela não me segue,
eu estou na minha sombra
e não vou em mim.
Sombra de mim que recebo a luz,
sombra atrelada ao que eu nasci,
distância imutável de minha sombra a mim,
toco-me e não me atinjo,
só sei do que seria
se de minha sombra chegasse a mim.
Passa-se tudo em seguir-me
e finjo que sou eu que sigo,
finjo que sou eu que vou
e não que me persigo.
Faço por confundir a minha sombra comigo:
estou sempre às portas da vida,
sempre lá, sempre às portas de mim!

José de Almada Negreiros

sábado, 29 de julho de 2017

Ser por ser

Il faut oublier des mots comme Dieu,
la Mort, la Souffrance, l'Eternité.
Il faut devenir aussi simple
et aussi muet
que le blé qui pousse
ou que la pluie qui tombe.
Il faut se contenter d'être.

Etty Hillesum


É preciso esquecer palavras como Deus, morte, sofrimento e eternidade.
É preciso procurar ser tão simples e mudo quanto o trigo ao vento e a chuva a cair.
É preciso contentar-se em ser.

terça-feira, 25 de julho de 2017

Permaneço

ÚLTIMO POEMA: PAISAGEM
Quando, ao longe, a vida que habitam os homens,
em direção ao tempo do resplendor das vinhas
se esvai,
despidos pelo verão se encontram os campos,
e em sombria imagem surge a floresta.
Que a natureza acrescente a imagem dos tempos,
e permaneça. E os tempos, velozes, deslizem;
da perfeição vem isso: que brilhem
para o homem as alturas do céu,
enquanto a árvore se vai coroando de flores.

domingo, 9 de julho de 2017

Insónia

Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distracção animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero. Quero só
Pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.

Alberto Caeiro

sábado, 8 de julho de 2017

Economias

Quem combate monstros tem de ter cuidado para não se tornar ele próprio num monstro. Basta não lhes dar importância para perceber que não existem. E que talvez nunca tenham existido.

quinta-feira, 29 de junho de 2017

Regressar de nenhures

A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.

Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.

Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,

Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.

F. Pessoa

sábado, 17 de junho de 2017

Já não dói

Às vezes dói
Mas é tudo imaginação.
O vento corre na mesma,
As pessoas as plantas e as pedras
Nas voltas imutáveis
Sou silêncio inspiração e transparência
E a dor que invento
É quando muito aquela de não doer
Quem vem do nada que nasci para ser
Por isso quando dói já não dói.

sexta-feira, 16 de junho de 2017

Concha

A CONCHA

A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciência:
Fachada de marés, a sonho e lixos,
O horto e os muros só areia e ausência.

Minha casa sou eu e os meus caprichos.
O orgulho carregado de inocência
Se às vezes dá uma varanda, vence-a
O sal que os santos esboroou nos nichos.

E telhados de vidro, e escadarias
Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta ao vento, as salas frias.

A minha casa. . . Mas é outra a história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
Sentado numa pedra de memória.

Vitorino Nemésio

sábado, 3 de junho de 2017

Na vida todos temos

Na vida todos temos
Um segredo inconfessável,
Um arrependimento irreversível,
Um sonho inalcançável,
E um amor inesquecível.

quarta-feira, 3 de maio de 2017

Sempre MAP

"Sou o pássaro que canta dentro da tua cabeça, que canta na tua garganta, que canta onde lhe apeteça."

in O Pássaro da Cabeça, Manuel António Pina

domingo, 26 de março de 2017

Sempre as palavras

Não há mundo mais triste que o do silêncio. Seria tolerável se não me forçasse a abdicar das palavras e dos sons. Vive-se mais perto do inferno, é certo, porque a maioria das palavras são ditas fora do contexto e são as palavras erradas. Mas palavra que as palavras.

domingo, 19 de março de 2017

Que és um dia de verão não sei se diga

Soneto XVIII

Que és um dia de verão não sei se diga.
És mais suave e tens mais formosura:
vento agreste botões frágeis fustiga
em Maio e um verão a prazo pouco dura.
O olho do céu vezes sem conta abrasa,
outras a tez dourada lhe escurece,
todo o belo do belo se desfasa,
por caso ou pelo curso a que obedece
da Natureza; mas teu eterno verão
nem murcha, nem te tira teus pertences,
nem a morte te torna assombração
quando o tempo em eternas linhas vences:
enquanto alguém respire ou possa ver
e viva isto e a ti faça viver.

W. Shakespeare
(versão de Vasco Graça-Moura)

sábado, 18 de março de 2017

Vida e morte

Viver mas só mesmo se tiver de ser.
As folhas nas árvores os frutos maduros
A criança no baloiço.
O carro ao longe e o ruído com cheiro
O pó irritado cria e apaga o rasto
A nuvens que mudam.
O aparo que parte no papel
As muitas cartas de amor,
Escrevê-las quando ela está ao lado
E quando o fio corre por debaixo.
Cheiro a cinzas, canela e jasmim
E os figos três horas em natas,
A bóina com as marcas dos dedos
O chão sem peso
O tomilho-limão
E o leite-creme de alfazema.

O que é eterno já está.
Posso morrer.

quarta-feira, 8 de março de 2017

sábado, 4 de março de 2017

Céu e sangue

“(…) Pomos os olhos nas extremas imaginadas das paisagens planas e distantes, aprendemos desde pequenos que isso é bom. O mar. A planura. As serras lá ao fundo. O casario reticulado e indistinto. Tendemos a ficar, tal é a sensação de que é aí que está um certo deus, tal como a noite a que damos as boas vindas e nos entregamos pacificamente. Antes dessa recompensa temos o tempo e o trabalho de ver o chão que pisamos e se é o nosso ou o que roubámos a alguém, mesmo sem saber. Logo a seguir, ver se chegámos ali naturalmente ou se acotovelámos alguém para encaixar. É que só no que verdadeiramente nos pertence pode cair a gota de sangue. De nada adianta o belo que nos rodeia se não lhe pertencemos. (…)”
MdM

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Insofismável

A verdade é a verdade. Quem a ela falha a outras obedece.

É preciso ter Ruy Belo

Orla Marítima

O tempo das suaves raparigas
é junto ao mar ao longo da avenida
ao sol dos solitários dias de dezembro
Tudo ali pára como nas fotografias
É a tarde de agosto o rio a música o teu rosto
alegre e jovem hoje ainda quando tudo ia mudar
És tu surges de branco pela rua antigamente
noite iluminada noite de nuvens ó melhor mulher
(E nos alpes o cansado humanista canta alegremente)
«Mudança possui tudo»? Nada muda
nem sequer o cultor dos sistemáticos cuidados
levanta a dobra da tragédia nestas brancas horas
Deus anda à beira de água calça arregaçada
como um homem se deita como um homem se levanta
Somos crianças feitas para grandes férias
pássaros pedradas de calor
atiradas ao frio em redor
pássaros compêndios da vida
e morte resumida agasalhada em asas
Ali fica o retrato destes dias
gestos e pensamentos tudo fixo
Manhã dos outros não nossa manhã
pagão solar de uma alegria calma
De terra vem a água e da água a alma
o tempo é a maré que leva e traz
o mar às praias onde eternamente somos
Sabemos agora em que medida merecemos a vida.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

O Que Alguém Disse

"Refugia-te na Arte" diz-me Alguém
"Eleva-te num vôo espiritual,
Esquece o teu amor, ri do teu mal,
Olhando-te a ti própria com desdém.

Só é grande e perfeito o que nos vem
Do que em nós é Divino e imortal!
Cega de luz e tonta de ideal
Busca em ti a Verdade e em mais ninguém!"

No poente doirado como a chama
Estas palavras morrem... E n'Aquele
Que é triste, como eu, fico a pensar...

O poente tem alma: sente e ama!
E, porque o sol é cor dos olhos d'Ele,
Eu fico olhando o sol, a soluçar...

Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade"

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Como se desenha uma casa

Como se desenha uma casa

Primeiro abre-se a porta
por dentro sobre a tela imatura onde previamente
se escreveram palavras antigas: o cão, o jardim impresente,
a mãe para sempre morta.

Anoiteceu, apagamos a luz e, depois,
como uma foto que se guarda na carteira,
iluminam-se no quintal as flores da macieira
e, no papel de parede, agitam-se as recordações.

Protege-te delas, das recordações,
dos seus ócios, das suas conspirações;
usa cores morosas, tons mais-que-perfeitos:
o rosa para as lágrimas, o azul para os sonhos desfeitos.

Uma casa é as ruínas de uma casa,
uma coisa ameaçadora à espera de uma palavra;
desenha-a como quem embala um remorso,
com algum grau de abstracção e sem um plano rigoroso.

(Manuel António Pina)

domingo, 29 de janeiro de 2017

Males e muros

Nos atentados devastadores do 11/Set em Nova Iorque, lembro-me do alerta que a minha terapeuta da altura me fez, de que a violência do ataque impune em si era o menor dos males. Terrível mesmo era a nova forma de nas nossas vidas passar a ser possível para os que nos eram mais chegados planear paulatinamente a nossa destruição. E que isso passaria a dar-lhes prazer, mostrar ao mundo o mal que nos faziam. Achei um exagero mas a Magda acertou em cheio.
Hoje faço um raciocínio parecido, com mais um paralelo com os EUA. A nova forma de terrorismo pessoal vai ser encontrarmos muros onde antes encontrávamos abraços. Não há dor maior.
Tenho problemas com a palavra "amizade", assumidamente, porque no fundo sempre senti mas não sabia dizer como de um momento para o outro se pode renunciar. A partir de agora, vão-se construir muitos muros.
Todos temos amigos verdadeiros, que não têm de estar num painel de fotografias em exposição, mas no nosso coração. Mas todos também - eu pelo menos - temos pessoas que sem darmos conta levantam novos muros. De nada adianta gozar com o rapazinho que governa os EUA neste momento, a quem seguramente roubaram os brinquedos todos quando era pequeno. Temos é de garantir que não fazemos o mesmo.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Se eu pudesse trincar a terra toda

Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento ...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva ...
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja ...

Alberto Caeiro

E vou lendo como páginas o meu ser

"(...)
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu."

Fernando Pessoa

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Soneto de Walter Benjamin

Vibra o passado em tudo o que palpita
qual dança em coração de bailarino
ao regressar já mudo o violino
e há nuvens sobre o bosque em que transita

À paz dos seres a morte em seu contínuo
crescer em ramos de coral incita
a bem da noite negra e infinita
ser um raro instrumento é seu destino:

O cetro dos eleitos que não cansam
o corpo que este tempo já não quebra
é como a cruz que os astros quando avançam

sobre o sul traçam por medida e regra
Os deuses têm-no em suas mãos cativo
risível é quem eles mandam vivo.

(Trad. Vasco Graça-Moura)

sábado, 14 de janeiro de 2017

O tempo das folhas persistentes

(...) "Que idade, tempo, o espanto
De ver quão ligeiro passe,
Nunca em mim puderam tanto,
Que, posto que deixe o canto,
A causa dele deixasse." (...)

Camões, Babel e Sião

sábado, 7 de janeiro de 2017

Fiz figura de corpo presente

Fiz figura de corpo presente, que era
a única figura que eu sabia fazer.
O corpo estava presente, a alma não,
a alma tinha ido dar uma volta, a alma
tinha morrido. Não podia portanto
tê-la comigo de cada vez que era
preciso ficar, também não era preciso
falar, era só preciso ficar, por isso
não fazia mal. Sem alma o corpo
criava o tom de uma cor desapercebida.

Coisa visivelmente de outro tempo,
simbolista, renascentista, ou outra coisa
qualquer, tudo servia para me atirares
à cara que eu já não era deste tempo.
Embora por soalho e tecto sons de hoje
levantem tábuas no soalho, estalem
tectos. Esses sons, que são de ferro
e água, batem no sangue com descarada
arritmia, até que as pálpebras se fecham
e eu me lembro outra vez que sou
corpo. Sem alma. Mas abdicou a alma
de mim, abdiquei eu dela? Calma,
assim não vamos a lado nenhum.

A alma é sem dúvida um tema
muito interessante, mas eu não consigo
dar-me a quem não vê a guerra total
e persistente, o vazio controlado
pela ignorância, os crimes impunes,
a sombra cinzenta no futuro da humanidade,
a hipótese do grande estoiro final.
E insistes em falar-me da alma.
E de ajustes de contas, e do silêncio
quando as portas se fecham e ali
ficas, de mãos cruzadas sobre o peito
e com a merda de um sorriso arrogante
ainda a bailar nos lábios roxos.

Hélder Moura Pereira

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Morreu John Berger

John Berger morreu ontem, e eu hoje tenho quase só isto para dizer. (Felizmente as palavras são suas)

"O meu coração nasceu nu
envolto em canções de embalar.
Posteriormente, fez de
poemas as suas vestes.

Tal qual uma camisa
que carrego nas costas
a poesia tenho lido.

Então vivi por meio século
até que em silêncio nos conhecemos.

Da minha camisa sobre a cadeira
esta noite aprendi
quantos anos
de estudo aturado
eu esperei por ti."

domingo, 1 de janeiro de 2017

Da bondade da solidão

"Seja o canto de um candeeiro ou a voz da tempestade, seja o respirar da noite ou o gemido do mar que te rodeia – sempre desperta por trás de ti uma vasta melodia, tecida por mil vozes, na qual só aqui e ali há espaço para fazer um solo. Saber quando é a tua vez – eis o segredo da solidão.”

"A melodia das coisas", R.-M. Rilke