domingo, 30 de setembro de 2012

Permaneço. 31. Risco a-risco e arrisco.


"Disseram-me que as secções dos troncos contam a história da árvore. Deste ramo em que observo, vejo um livro totalmente fechado. Um desenho infantil que tenta esboçar a ilusão de ver melhor."

Estamos todos errados.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Permaneço. 29.

Para ti, que estás AQUI.

"Cuidado na viagem, espero-te."


Nunca mais

Nunca mais
Caminharás nos caminhos naturais.
Nunca mais te poderás sentir
Invulnerável, real e densa -
Para sempre está perdido
O que mais do que tudo procuraste
A plenitude de cada presença.

E será sempre o mesmo sonho, a mesma ausência.

(Sophia)

Permaneço. 28.


São muitos os corredores da vida, todos bizarros na sua essência. Os que queremos perto viajam em corredores ortogonais aos nossos, e os siderais quase nos tocam. Tudo parece inevitável. Hoje gostava que alguém desse um recado especial a alguém e recebesse de volta o brilho do Branco.
Recado para um dia de chuva, em que forçosamente nos concentramos no chão que pisamos ao andar.

Permaneço. 27.

Numa parede roubada lemos:

"É tão pouco o que me faz ficar, mas é preciso tanto para partir!"

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Permaneço. 26.


"Aproximou-se para sentir, só, mas mexeu. Brincou como uma criança mimada, como se tudo e tu lhe pertencessem, e deixou um cenário devastador, que irresponsavelmente abandonou".

domingo, 23 de setembro de 2012

Permaneço. 25.


Na água cristalina, como no espaço sideral, no âmago imponderável. Impossível contrariar a nossa natureza.

Com Hölderlin de novo sentado ao meu lado, dizendo "Deuses andaram outrora..."

Deuses andaram outrora entre os homens, as Musas magníficas
E o jovem Apolo, sarando, inspirando, como tu;
E tu és para mim como eles, como se um dos Venturosos
Me tivesse mandado prá Vida: se eu ando, anda comigo
A imagem da minha Heroína, quando sofro e crio, com amor
Até à morte; pois isto foi que aprendi dela e dela tenho.

Vivamos, pois, ó tu com quem eu sofro, tu com quem
Íntima - e crente - e fielmente luto por tempo mais belo.
Pois nós somos! E se em anos vindouros ainda soubessem
De nós ambos, quando outra vez o Génio valer,
Diriam: "Estes solitários criaram pra si em amor,
Só sabido dos Deuses, o seu mais secreto mundo.
Pois os que só do que morre cuidaram, a terra os recebe;
Mas mais se aproximam da Luz e do Éter
Os que, fiéis ao íntimo amor e ao divino espírito,
Esperando e sofrendo e com calma o Destino venceram."

sábado, 22 de setembro de 2012

Permaneço. 24.

É admirável, o longe que as nossas mãos alcançam. Martírio por não ter. Saúdo agora o silêncio absoluto.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Permaneço. 23.

Os dedos entram e saem da pedra, intactos e inviolados. Fica tudo como estava, tirando o movimento em si, que acumula compassos como se de um contador se tratasse. Relógio de areia maquinado por ser humano, paragem misteriosa que não rende distância mas antes ciclos. As arestas das pirâmides foram limadas pelo tempo do lado de fora e acabadas por mãos sábias do lado de dentro. Gárgulas, cordas arcos tubos tudo dentro dos blocos que não deixam ver. Normal que assim seja, é por isso que o corpo dos crentes venera a pedra e traz a cruz ao peito. A pedra é futuro, a cruz é passado. A pedra obriga a ver, a cruz força os olhos a fechar-se. E é na pedra que descubro o futuro dos antigos por que ainda não passámos, latim dizem eles soberbos, fixando-se apenas nas catedrais. Vinhetas insólitas cinzeladas pelos dedos que entram e saem, duas vezes furo três vezes relevo quatro depressão etc. Calcula-se assim exactamente o tempo gasto em cada detalhe, em cada pequeno fruto suspenso daquele pomar que na pedra tumular representa a própria vida e isso é a pedra. Dentro de facto decorre a transformação do alabastro na essência de que são feitas as almas, na areia mais fina, que se respira e nos restaura a profunda alegria que representa viver. A pedra é vida em estado puro, imanente e transmutante. Os seus átomos vibram sem cessar numa dança fecunda e imparável, quase ritual. Há dedos de gigante por isso, deve haver!, que entram e saem também eles numa pedra maior, angular. Saiu a certa altura a cruz de madeira como se fosse mais leve e transportável para cumprir o suposto desígnio do cristo. Falácia histórica, catástrofe de leitura dos tempos. Foi a pedra que fez do maduro Jesus o Cristo, nunca o madeiro da cruz onde o cravaram. Este serviu para duas coisas apenas, instalar a bicharia que transforma a madeira em nada defecando-a, e ser ostentação de reis e senhores na forma de ridículos e muito mortos pedaços. Pensar que foram tão longe os cavaleiros alvos e que inventaram a lógica do madeiro do último suspiro do cristo para não reconhecer que tudo tinha sido em vão. São vaidosos os homens, os puritanos sobretudo. Mas foi tudo em vão na terra santa, vaidade alguma saiu vitoriosa no processo do cristo. A pedra sim, venceu. O túmulo preparado por José de Arimateia continha dentro a matéria viva que vive também nas angulares das pirâmides, fervilhantes de ansiedade, por fora a lisura preparada pelo tempo. A colossal tampa saiu do seu encaixe pela mão do gigante, a alquimia dos antigos fê-lo voejar em direção a tempos diversos, e começou o cristianismo. Não na cruz, nunca na cruz. Na pedra, sempre na pedra. O nosso cristo, o adorável cristo, o prodigioso cristo, ressuscitou na pedra de Arimateia, discípulo fiel dos reis magos, o mesmo que nos trinta anos de oriente fez do menino depois jovem depois homem o santo mais esclarecido da história. 

Escandaloso José, depois do outro, o pai do cristo, ter aceite entregar o seu filho, à turba e ao destino. Este de Arimateia, assistiu sempre a tudo. Nunc Dimitis no templo, ao lado de Maria depois, colado a Maria Madalena para a eternidade. Sombra mística, glosada depois na gruta luminosa que absorveu o salvador para o cosmos. Não me importava que fosse o José-pai, silencioso sofredor, o único homem de fé ao lado de todos os outros que até hoje a professaram. Que fazia ele ali, nos diversos ali que nos foram transmitidos, tantos lugares, tanto segredo? O mesmo José que interpelou os caminheiros de emaús, o mesmo José que mandou cumprimentos para o amoroso João da Cruz, através dos seus coadjutores, o mesmo José que soube da tragédia do fim do seu filho e impotente e com paciência superou, luz da fé infinita, o mesmo José que entrava e saía dentre os grandes do seu tempo e templo como se fosse portador de salvo-conduto sagrado, sacramento, mas o mesmo José que nada sabia, o mesmo José que nunca conseguiu perceber.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Permaneço. 22.


Pergunto ao vento sueste onde desemboca toda esta água. Com os meus olhos fixos no norte, sinto o calor de mãos gigantes de areia. Sem reflectir, encaminho-me mecanicamente para perto da passagem. Uma vida que clama por ser vivida.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Permaneço. 21.

Se o mar é azul, as luas são de prata, as lágrimas transparentes e a memória dourada, de que cor são as saudades? Amêndoa prateada? E onde as devo pintar? No chão em que ajoelho?

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Permaneço. 20.



Se tanto me dói que as coisas passem
É porque cada instante em mim foi vivo
Na busca de um bem definitivo
Em que as coisas de Amor se eternizassem
(Sophia)


Falhei. Sempre falhei. Palavra que sempre.

Permaneço. 19.

Permaneço. 19.

Para onde vão as lágrimas que não se consegue chorar?

quinta-feira, 13 de setembro de 2012


Permaneço. 18.

Não é a água que é membrana, nem há membrana. As fronteiras não existem mais, e a dor do intervalo instala-se. Sou assombrado pela imagem que no espelho insistentemente me desafia. Quero entrar mas às vezes dói. Juramento. Pirâmide.
Permaneço. 17.

Gosto mais de nenhures que de algures. Nenhures diz-me exactamente que não, algures fá-lo adivinhar. Prossegue vagarosa a marcha nestes corredores concêntricos.