segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Pax 3 - Paris

Uma espécie de retiro em três pisos, o Aux Trois Mailletz, na Rue Galande, Paris 5. Entra-se a horas decentes para jantar, sai-se a horas decentes para o pequeno-almoço. Bom gosto, boa comida, boa música. Não ia lá há muitos anos e no entanto deve ser o sítio em Paris que até hoje mais recomendei. E é o único sítio do mundo onde dancei em cima das mesas. Aliás, desfilei.

Pax 2 - Annecy

Depois de perceber que estava confirmado nos meus avanços modestos e solitários em direcção ao doutoramento, ratificados pelo grupo de raciocínio espácio-temporal em que tinha acabado de ser confirmado, fui entregar-me aos prazeres da mesa num restaurante ultra-clássico mas onde havia excelentes vinhos. Abri uma garrafa de Clerc-Millon 1986 e do resto não me lembro, só me lembro de que saí cerca das 6 da tarde e que o jantar de gala da conferência era daí a pouco mais de uma hora. Foi só o tempo de ir ao meu mau hotel tomar um banho, mudar de roupa e dirigir-me ao chateau onde ia acontecer o tal jantar de gala. Logo que cheguei, arrependi-me mil vezes de me ter inscrito para o jantar, mas enfim, esperava-me dois dias depois um período de fantasia em Montreux, onde na qualidade de jornalista especialista de Tecnologias de Informação, tinha um hotel de 5 estrelas à minha espera.
Conheci a Irene. Venezuelana, cientista como eu, sobrinha da Isabel Allende, mil histórias para me contar e eu a ela. Passámos por cima do jantar e de tudo, combinámos secretamente ir a Annecy na noite seguinte. E fomos. E ainda não sei se voltámos.

Pax 1 - Chambéry

A bienal de inteligência artificial de 93 encerrou a minha vida científica, com a validação de que precisava do meu trabalho de doutoramento. A minha euforia ao ouvir isso mesmo na reunião do meu grupo de interesse em relação aos resultados que tinha conseguido fez-me sentir nas nuvens e só tinha cabeça para sair da conferência e vaguear por Chambéry com a minha máquina ao pescoço. Entrei em prédios, casas, meti por ruelas e becos, fiz a viagem de celebração ali mesmo e aprendi a libertar-me de duas relações muito erradas em que estava. Voltei e volto sempre que posso, ali todo o percurso calcorreado é também percurso interior. Revisito-me, por isso.