quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Um homem normal.


Saiu de casa com a ideia fixa de fazer uma loucura que acabou por fazer sem querer, o pobre homem não tinha feito nada que não devesse, devia estar aéreo ou coisa assim para se deixar apanhar em casa com outra no lugar da mulher que entretanto telefonara para garantir que o gás estava desligado, mas ao perceber que havia caso disse vou já e foi, deixou o homem de cabeça perdida e ficou trancado do lado de fora, pressuroso para não ser apanhado pela mulher que era mesmo mulher e não era a outra, outra que ficou do lado de dentro e abriu a porta à que era mesmo que entrou enquanto dizia não me diga nada sei quem você é e faz muito bem em ser assim, que os homens bons não se querem por muito tempo, os intervalos são uma maravilha, mas é capaz é de não saber que ele anda feito aqui com a filha do merceeiro, o caso dura há três anos e eu aturo-lhe tudo tudo porque no fundo não o aturo é a ele, isso não lhe deve ainda ter acontecido, fartar-se dele, por acaso já me acontece há mês e meio, tive de arranjar outra solução rapidamente e tenho um companheiro maravilhoso, só que ele anda de olho numa miúda que deve ser muito mais nova que eu, apesar dele jurar que não, ela mora aqui na rua, até acho que é ali no prédio em frente, espere aí, disse a mulher a sério, esse seu homem é o que tem um mercedes branco, sim, mas esse é o meu homem e a dona dessa casa sou eu, então não é dona desta, sim também. Entra o desgraçado do homem que tinha ficado trancado lá fora que aproveitou para comprar flores para a mulher a sério que imaginava nesta altura já instalada na casa também a sério, fazendo fé que a outra se tinha também posto a andar. Em vez disso, esperaram-no ambas que logo que ele entrou lhe chamaram em coro: perverso!

sábado, 17 de agosto de 2013

As minhas memórias são nada

As minhas memórias são nada. O passado é aquilo que se desdobra de novo nas minhas mãos, à maneira de mapa, para onde não vale a pena olhar, apenas sentir. Quanto sinto que tudo está na mesma, é quando sei que tudo mudou. Eu, como as memórias, sou um nada mutante. Calo dentro feliz o sentimento de que tudo é diferente.

Correr juntos


Quando chegavam as 6 da tarde, era tempo de voltarmos a ver-nos. Vencer o trânsito e o cansaço. Deixar acender dentro a chama que nos atirava tanto um para o outro. Havia mais, muito mais, que nos atirava ambos para o rio. Metamorfose rápida, ser só vestir o equipamento e descer, o Tejo ali. Silêncio, não falávamos. Então dávamos as mãos. Caminhávamos 5 minutos de mãos dadas. E começava a corrida, 4,5 km para lá, outro tanto para cá. Era exactamente 9 km de conversa. Ninguém soube que 9. Mas nove. Era como se não fosse preciso respirar, correr ou andar a mesma coisa. Não dispensávamos era falar. E fazíamos amor devagar, muito tempo. Do que aprendi e vi, as outras pessoas correm de forma solitária, e fazem amor a correr. Nós não. Nunca.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Era no Algarve que devia estar

Encostado ao perfil de uma gaivota, em modo vagaroso, a sondar que mundo.

Ou a pensar não sondar. Antes ser perscrutado sem dar por isso. Que havia. Que podia haver.

sábado, 10 de agosto de 2013

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Sinto. 10. Discurso, doutrina, prática.

Se alguém é o que diz, como pode o que faz não ser aquilo em que acredita? A humanidade vive encarcerada naquilo que promete e - mais?... - no que espera dos outros.

A Fé compromete. Deve comprometer. É forçoso que comprometa.

Alguém deve achar que o amor.

Palavra que se diz.