sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Pobreza necessária

Sou pobre dos que amo. Com tal intensidade que às vezes tenho medo que se note. Não prendo, solto. Quando a vida da maioria se foi definindo como um conjunto de certezas, a minha ensinou-me exactamente o contrário. Penso que instalei dentro o significado do nada e é por isso que nos meus corredores viajo rente às ténues fronteiras dos limites e quase toco no tudo. É uma lei muito antiga. Não pode notar-se. Palavra que pobre.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Amar-se para ser amado.

Se eu não me amo, vou andar à procura de alguém que me complete, faça feliz e que torne os meus sonhos em realidade. Estar "necessitado" é a melhor forma de atrair más relações. Se estamos à espera que outra pessoa nos "arrume" a vida, ou que seja a "melhor metade", estamos a dispor as coisas para o fracasso. É necessário que estejamos realmente felizes connosco próprios antes de iniciar uma relação a dois. É talvez mesmo necessário que estejamos já suficientemente felizes para nem sequer precisar de uma relação para ser feliz.

Da mesma forma que se temos uma relação com uma pessoa que não se ama a si própria, é quase impossível que a consigamos satisfazer.
Nunca se "vale o suficiente" para uma pessoa insegura, frustrada, ciumenta, rancorosa ou que se odeia a si própria.
Vemo-nos muitas vezes a fazer o impossível para agradar e ser valorizados por companheiros que não sabem aceitar o nosso amor, porque de facto não se amam a si próprias.

A vida é um espelho, atraímos pessoas que reflectem as nossas próprias características, ou o que pensamos de nós próprios e das nossas relações. O que os outros pensam de nós corresponde à sua própria perspectiva limitada da vida. Temos de aprender que a vida nos ama incondicionalmente. O trabalho mais importante fazemo-lo em nós próprios. Desejar que uma companheira mude é uma forma subtil de manipulação, o desejo ter poder sobre ela. 
Muitas vezes procuramos pessoas que nos façam sentir amados ou ligados, quando a única coisa que elas podem fazer é reflectir a nossa relação connosco próprios.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Queria dizer-te

Queria dizer-te que as nuvens parecem algodão doce.
Queria dizer-te que as nuvens por dentro têm o ruído do mar na rebentação. É por isso que lhes pomos as mãos e brincamos. E também porque sabemos que o mar é inteiro e inviolável. É para sempre.
Queria dizer-te que as nuvens escondem quem vai a passar e não pode ser visto.
Queria dizer-te muitas coisas felizes sobre as cores. Por exemplo avelã, cor dourada a lembrar mel. Por exemplo azul sulfato, a cor que está antes de todas as outras. Por exemplo alfazema, que é impossível não ter cheiro. Por exemplo verde, sensível numa parra em que se toca para ver da fotossíntese e sentir a frescura da folha saudável. Por exemplo vermelho, a cor dos extremos festa e sangue. Por exemplo pêssego, a um tempo muitas cores e cor nenhuma. Por exemplo bordeaux, que quer sempre dizer cor de vinho tinto.
Queria dizer-te o que não posso dizer, mas isso tu já sabes.