A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.
Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.
Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,
Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.
F. Pessoa
quinta-feira, 29 de junho de 2017
sábado, 17 de junho de 2017
Já não dói
Às vezes dói
Mas é tudo imaginação.
O vento corre na mesma,
As pessoas as plantas e as pedras
Nas voltas imutáveis
Sou silêncio inspiração e transparência
E a dor que invento
É quando muito aquela de não doer
Quem vem do nada que nasci para ser
Por isso quando dói já não dói.
Mas é tudo imaginação.
O vento corre na mesma,
As pessoas as plantas e as pedras
Nas voltas imutáveis
Sou silêncio inspiração e transparência
E a dor que invento
É quando muito aquela de não doer
Quem vem do nada que nasci para ser
Por isso quando dói já não dói.
sexta-feira, 16 de junho de 2017
Concha
A CONCHA
A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciência:
Fachada de marés, a sonho e lixos,
O horto e os muros só areia e ausência.
Minha casa sou eu e os meus caprichos.
O orgulho carregado de inocência
Se às vezes dá uma varanda, vence-a
O sal que os santos esboroou nos nichos.
E telhados de vidro, e escadarias
Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta ao vento, as salas frias.
A minha casa. . . Mas é outra a história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
Sentado numa pedra de memória.
Vitorino Nemésio
A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciência:
Fachada de marés, a sonho e lixos,
O horto e os muros só areia e ausência.
Minha casa sou eu e os meus caprichos.
O orgulho carregado de inocência
Se às vezes dá uma varanda, vence-a
O sal que os santos esboroou nos nichos.
E telhados de vidro, e escadarias
Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta ao vento, as salas frias.
A minha casa. . . Mas é outra a história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
Sentado numa pedra de memória.
Vitorino Nemésio
sábado, 3 de junho de 2017
Na vida todos temos
Na vida todos temos
Um segredo inconfessável,
Um arrependimento irreversível,
Um sonho inalcançável,
E um amor inesquecível.
Um segredo inconfessável,
Um arrependimento irreversível,
Um sonho inalcançável,
E um amor inesquecível.
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