sábado, 29 de agosto de 2015

Chega! Sim, chego.

"Chega.
Vem-me buscar.
Par de patins.
Comer por amor.
Nem te dás conta.
As folhas das árvores.
Saudades."

Os corações são imperfeitos. As pessoas maiores que o meu coração.

"(...) Mudaram muita vez as folhas da floresta (...)".

Teresa. 3.

(Para Alexandra, com a intenção indizível)

Casa Deserta

Ah nada pior que a casa deserta,
sozinha, sozinha.

O fogão apagado e tudo sem interesse.
O mundo lá longe, para lá da floresta.
E o vento soprando
a chuva caindo
a casa deserta...

Ah nada pior que estes dias e dias,
de cachimbo aceso, com as mãos inertes,
com todas as estradas inteiramente barradas,
ouvindo a floresta.
Com tudo lá longe, na casa deserta,
o vento soprando
e a chuva caindo, na noite caindo...

Há uma cancela que range nos gonzos
um velho cão de guarda que ladra sem motivo
- parece que é gente que vem a entrar...

E é só o vento soprando, soprando
e a chuva caindo...

Mudaram muita vez as folhas da floresta.
Os olhos do homem são olhos de doido.
Fogão apagado, aceso o cachimbo, o mundo lá longe.

E o vento soprando
a chuva caindo
a casa deserta...

Mário Dionísio

Teresa. 2.

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para o Estados Unidos, Teresa para o
convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto
Fernandes
que não tinha entrado na história.

Carlos Drummond de Andrade

Teresa. 1.

A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna

Quando vi Teresa de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o
[resto do corpo
(Os olhos nasceram e fizeram dez anos esperando
[que o resto do corpo nascesse)

Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a
[face das águas.

Manuel Bandeira