sábado, 30 de julho de 2016

Sobre L’Annonce faite a Marie, de Paul Claudel

Violaine é filha de um lavrador abastado e despede-se com um beijo de um hóspede leproso no momento da partida, contraindo a doença. É vista no acto pela sua irmã Mara. Nesse mesmo dia, o pai de ambas anuncia que parte para Jerusalém e que quer que Violaine se case com Jacques, vizinho tratado por ele como um filho. Só que Mara está apaixonada por Jacques e vai fazer tudo para destruir o noivado. Então vai contar o episódio do beijo a Jacques, semeando-lhe a dúvida dentro. Ele confronta Violaine, que confirma tudo, após o que é expulsa de casa e entregue a uma leprosaria. Jacques deixa-se tomar pelo horror da doença e opta pelo caminho mais curto. Mara fica com o caminho para Jacques desimpedido, como ela queria. Passados sete anos, Mara vai visitar a irmã, que à reclusão entretanto juntou a cegueira. O impossível acontece quando pela visita de Mara Violaine fica curada da lepra e volta a ver. Em vez de ser uma boa notícia para a irmã, contudo, multiplica-se o ódio e o ciúme. O milagre passa-lhe totalmente ao lado.

Eu gosto muito desta pequena peça de teatro de Paul Claudel pelas implicações a um tempo humanas e sagradas que tem. A frase que mais perto do fim cabe a Violaine, “perdoem-me se fui feliz” é avassaladora. A cobiça, inveja e ciúme de uma irmã que não se importou de abandonar e prejudicar a sua própria irmã acaba por se transformar na força brutal da cura e do amor.

Somos governados pela inveja, somos capazes do pior.

quinta-feira, 21 de julho de 2016

MF25. Anne Brigman, 1869-1950 (EUA)

Estudou e dedicou-se à pintura numa primeira fase da sua vida artística. A partir de 1902 entregou-se à fotografia com tal fervor e resultados que Stieglitz a convidou desde logo a integrar o famoso movimento da Photo-Secession, o que veio a consumar-se em 1906. O nu feminino deu-lhe fama, mas a realização verdadeira alcançou-a na natureza, particularmente nas terras ainda inóspitas e pouco visitadas de Sierra Nevada. Câmara de grande formato, tripé pesado às costas e roupa para muitos dias, eram frequentes as suas saídas. Há muito mistério em todas as imagens da artista, a maioria em torno da simbólica pagã.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

MF24. Ruth Bernhard, 1905-2006 (D)

Nasceu em Berlim e com 22 anos apenas interrompeu os estudos de Belas Artes, para se mudar para Nova Iorque. O contacto com a fotografia fê-la decidir enveredar por uma nova carreira, conhecendo e trabalhando com alguns dos melhores fotógrafos de então. Foi o que aconteceu com Edward Weston, com quem aprendeu muito acerca da fotografia culta. Em 1953 foi para a Califórnia e trabalhou ao lado de figuras como Ansel Adams e Imogen Cunningham. Os nus de Ruth Bernard ainda hoje são dos mais escultóricos e belos que a fotografia produziu. Esta imagem “Classic Torso”, de 1962 mostra bem a sua atitude estética.

terça-feira, 19 de julho de 2016

MF23. Ellen Auerbach, 1906-2004 (D)

Judia de nascimento (Alemanha), emigrou para a Palestina em 1933, onde começou a trabalhar fora de portas, ao mesmo tempo que descobriu a fotografia infantil. Esta fotografia marca um pouco a viragem para o mundo exterior, foi tirada em 1934, e mostra um cenário relativamente vulgar na praia de Tel Aviv, passagem de camelos observado por um miúdo. Mais tarde na sua vida fundou o seu Estúdio de Fotografia de Crianças, projecto que tratou com carinho até à morte, nos EUA, quase com cem anos.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Alma e pele.


Tocar piano é difícil, mas esta imagem é simbólica. Quando as coisas estão a correr bem, a musa aconchega-se e adormece. Nada tem de ofensivo, nem poderia ter.

domingo, 17 de julho de 2016

MF22. Louise Dahl-Wolfe, 1895-1989 (EUA)

Nasceu em Alameda, Califórnia e estudou na escola San Francisco Institute of Art. Estava a trabalhar como pintora de sinalização quando em 1921 descobriu as fotografias de Anne Brigman, californiana como Louise e pictorialista ligada ao famoso Stieglitz Circle de Nova Iorque. Ficou qualquer coisa dentro dela, mas foi só cerca de 10 anos mais tarde que fez as suas primeiras experiências fotográficas. Publicou a primeira fotografia em 1933, “Tennessee Mountain Woman”, na Vanity Fair e mudou-se para Nova Iorque, onde abriu o estúdio que viria a manter até 1960. O seu nome marca a história da fotografia de moda a cores, sobretudo pela sua incrível genialidade no processamento fotográfico, como está bem patente nesta imagem, a minha favorita.