sábado, 30 de julho de 2016

Sobre L’Annonce faite a Marie, de Paul Claudel

Violaine é filha de um lavrador abastado e despede-se com um beijo de um hóspede leproso no momento da partida, contraindo a doença. É vista no acto pela sua irmã Mara. Nesse mesmo dia, o pai de ambas anuncia que parte para Jerusalém e que quer que Violaine se case com Jacques, vizinho tratado por ele como um filho. Só que Mara está apaixonada por Jacques e vai fazer tudo para destruir o noivado. Então vai contar o episódio do beijo a Jacques, semeando-lhe a dúvida dentro. Ele confronta Violaine, que confirma tudo, após o que é expulsa de casa e entregue a uma leprosaria. Jacques deixa-se tomar pelo horror da doença e opta pelo caminho mais curto. Mara fica com o caminho para Jacques desimpedido, como ela queria. Passados sete anos, Mara vai visitar a irmã, que à reclusão entretanto juntou a cegueira. O impossível acontece quando pela visita de Mara Violaine fica curada da lepra e volta a ver. Em vez de ser uma boa notícia para a irmã, contudo, multiplica-se o ódio e o ciúme. O milagre passa-lhe totalmente ao lado.

Eu gosto muito desta pequena peça de teatro de Paul Claudel pelas implicações a um tempo humanas e sagradas que tem. A frase que mais perto do fim cabe a Violaine, “perdoem-me se fui feliz” é avassaladora. A cobiça, inveja e ciúme de uma irmã que não se importou de abandonar e prejudicar a sua própria irmã acaba por se transformar na força brutal da cura e do amor.

Somos governados pela inveja, somos capazes do pior.

Sem comentários:

Enviar um comentário