quinta-feira, 11 de agosto de 2022

11/8/88 - O fim

Acordar e ficar na mais profunda solidão.

Vamos desligar, a menina está muito mal.

Vou para casa da minha mãe, disse o teu pai,

Fiquei sozinho a rezar.

Adeus fadinha.

quarta-feira, 10 de agosto de 2022

10/8/88 - Chegou a noite

Ficámos apenas eu e o teu pai.

Foi tudo embora, a vigília não acalentava mais os ânimos.

Começou a minha conversa mais intensa e íntima com Deus, que perdura.

O teu pai numa poltrona, eu noutra, entregámo-nos ao silêncio.

Adormecemos.

10/8/88 - Aceitar

Dormi nas camaratas do pessoal de S. José, aliás como ontem. 

A primeira coisa que fiz foi ir à UCI ver como estavas.

Tensão intracraniana estável mas alta, e o coágulo na mesma.

Não tive coragem de te tocar nem falar contigo.

Pe. Feytor Pinto veio a meio da manhã e preparou-me para a tua partida definitiva.

Depois da visita os instrumentos indicavam apaziguamento. 

Disseram-me que serenaste. Aceitaste.

Tentei olhar para o resto da minha vida mas não via nada.

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

8/8/88

Numa Segunda, como hoje.

Antes de tudo, logo de manhã a luz cortada em casa, um pai a fugir de táxi em táxi para não pagar.

Biblioteca da Gulbenkian. Serenar.

Fechou. Fomos para casa. Estivemos juntos.

Uma mãe a pedir para não estarmos, esperava alguém.

Não estavas bem.

Fomos jantar casa meus pais.

Reunião Racionalismo.

Filme. Eu não existo nem nasci em parte alguma. Era assim que eu gostava que a minha vida tivesse sido. Não gostei.

De repente a dor aguda. Liga para o meu pai.

Liguei.. Leva-a ambulância para S. José. Levei-te.