Kundry 1
Kundry, ambivalente mas chave no conhecimento de Parsifal de si próprio. Dois senhores: Gurnemanz (Graal; purificação) e Klingsor (Mal; magia negra). Transporta em si num todo indefinível esses grandes blocos dos fundamentos da existência humana.
Toquei mais vezes a abertura de Parsifal como marcha inicial em casamentos do que as vezeiras marchas nupciais de Mendelson e Wagner (Lohengrin). Há magia em todos os compassos e é sempre redentor o percurso melódico e contraponto das várias vozes. Kundry está sempre presente e sempre, por puxar tanto pela existência dos que interpela, dos que ama, leva quase ao mito da transformação em si próprio, à maneira de Zaratustra.
Falo muitas vezes com Kundry. Gosto de falar com ela. Gosto de me deixar ser dela.
Kundry 2
Sedutora nos jardins de Klingsor. Mas também Graal nos domínios de Gurnemanz. Ao seduzir Parsifal, vai sucumbir nos seus braços e revelar-lhe os primeiros instantes, cantando-lhe ao ouvido o que a sua Mãe cantava enquanto o amamentava. Parsifal descobre a sua identidade e o amor. Ao conduzi-lo a Gurnemanz, Kundry proporciona a Parsifal o mais brutal acontecimento: a transformação. "Aqui o tempo e o espaço tornam-se um só". Maravilhosa Kundry. Estás exausta, ninfa.
Kundry 3
Kundry, exausta. É preciso esvaziar-se completamente. Parsifal nos seus braços esgotado em sono profundo. Ela mais. Porquê?
Kundry 4
Kundry deixou de sentir. Perscruta-se num qualquer espelho. Ri-se dos tolos voluntários que julgam perceber.
Kundry 5
És mortal e morta, Kundry. Afinal és escrava.
Kundry 6
Kundry, minha força e vigor. Diz-me tudo.
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